Quarta-feira, 11 de Agosto de 2004

- Opiniões: O volfrâmio dos outros

O volfrâmio dos outros


Por: Manuel Artur Miller (extracto do artigo publicado no jornal Roda VIva, em 16/7/04)


 


«...E Arouca? Passada que foi a fugaz e volátil "febre do ouro negro", foi aproveitando a ganga do minério, primeiro negando a industrialização e apostando na agricultura, mais recentemente apostando na industrialização e abandonando a agricultura!


Erro positivo na primeira aposta, porventura erro negativo nesta segunda e última aventura.


Talvez, agora, Arouca devesse apostar num tipo de agricultura e pecuária de cariz biológico, modernas e futuristas, pois só através delas se conseguirá desenvolver preservando e explorar divulgando a nossa riqueza ambiental, paisagística e cultural de raiz tradicional, imprimindo-lhe um cunho turístico alicerçado numa "nova forma de ser e de se estar na política" pois "começa a ser tarde..."


Arouca poderá de facto ter futuro.


O filão aurífero de Arouca estará no azul do ambiente, no castanho da terra e no verde da esperança»


Este artigo, que vale a pena ler na íntegra, é bem esclarecedor das preocupações do seu autor com o futuro de Arouca. Apelo eu, agora, para que os autarcas e a população não se deixem "envenenar" pelo desenvolvimento industrial exagerado(poder da economia) sem os necessários cuidados com a sustentabilidade (defesa da natureza/saúde).


Alguns perigos estão eminentes. Lendo alguns jornais, vimos alguns exemplos, como a futura central termoeléctrica (a criar no lugar da Vacaria, Carregosa) e as fábricas de betuminoso/alcatrão (em Fajões, Oliveira de Azeméis e na Farrapa, Chave), pois na realidade o filão aurífero de Arouca estará no azul do ambiente, no castanho da terra e no verde da esperança... Serão estes empreendimentos desejáveis para uma terra que aposta no seu cariz rural, na qualidade de vida, no ar puro ? Com certeza que não!


F T Ferreira


 

publicado por FTF às 12:38
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- Sugestões de leitura: O volfrâmio de Arouca

O volfrâmio de Arouca no contexto da segunda guerra mundial (1939-1945).

Trata-se de uma obra bem interessante, do arouquense António Vilar. Ultimamente têm sido publicados extractos no jornal Roda Viva.
publicado por FTF às 12:25
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- Freguesias: Mansores - Armas

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Ordenação heráldica do brasão e bandeira
Publicada no Diário da República, III Série de 01/09/2000


Armas - Escudo de verde, castelo de prata lavrado de negro, aberto e iluminado de vermelho, entre uma palma de ouro e uma tenaz de prata, passadas em aspa, em chefe e duas espigas de trigo de ouro, realçadas de negro, com os pés passados em aspa, em ponta. Coroa mural de prata de três torres. Listel branco, com a legenda a negro em maiúsculas : “ MANSORES - AROUCA “.
 



publicado por FTF às 11:42
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- Aldeia da Castanheira: Pedras parideiras III

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PEDRAS PARIDEIRAS
Texto de Augusto Baptista


É um fenómeno espantoso, talvez único em todo o planeta. Na aldeia de Castanheira, perto de Arouca, em plena serra da Freita, aqui em Portugal, há pedras a parir pedra. O povo da região chama-lhes as pedras parideiras. E há quem diga que elas parem desde o princípio do Mundo. 


"Parecem pedreiros. Trazem martelos e andam por aí a partir pedra. Até os muros desfazem. E nós não podemos fazer nada". António Tavares José, presidente da Junta, anda desolado. Principalmente ao fim-de-semana, em Castanheira é o fim do mundo. Vem gente de todo o lado à cata das pedras parideiras. "O pessoal podia vir aqui ver, mas deixar a pedra quieta. Assim, até parece que andam a destruir a povoação. Levam toda a qualidade de pedra. Chegam a carregar carros e furgonetas", desabafa. À serra da Freita, cada vez desagua mais gente. São carros, excursões de curiosos, ávidos de ver e de ter a pedra que pare. "Até já mete nojo ver o pessoal todo a apanhar pedras. E não há interesse nenhum em levá-las. Elas fora daqui não parem. E acho bem, afinal aqui é que é a terra delas", opina o homem da Junta.


O povo da aldeia indigna-se com o que vê, mas sente-se impotente. "Não podemos ir à frente. Temos de ter uma iniciativa da Câmara ou de alguém. Ainda não houve entidade nenhuma que se opusesse e nós não podemos fazer nada sem sair uma lei. Não podemos pôr aí uma placa "Proibido levantar pedras". A febre das pedras parideiras está a perturbar a pacatez do dia-a-dia serrano. Os curiosos que aqui chegam não sabem ao certo ao que vêm. Procuram não sabem bem o quê. Perseguem uma miragem. Apostam na ilusão de surpreender o supremo momento de nascer. Querem ver a pedra parir. O imaginário popular das gentes serranas ajuda ao sonho. "Aqui está uma pedra, seja grande, seja pequena, pare sempre, com o tempo. Isto é assim desde o princípio do Mundo. Sempre a parir".


Na Castanheira, a pedra-mãe, a pedra-parideira, é o granito. Ventre de onde nascem pequenas pedras arredondadas, paridas em fantásticas gestações milenares. "As jogas são as pedras paridas. Elas vão crescendo devagar dentro das lajes e depois saltam fora" - garante Manuel Tavares, agricultor. "E do sítio de onde elas saem fica um pretinho por baixo, sempre um vãozinho preto e depois torna outra joga a crescer com o tempo e torna a saltar". Mas elas dão mesmo um pulo, é? "Eu sei lá, nunca vi nenhuma a parir. Mas elas andam muitas por aí, soltas. São mistérios. E por que é que a cal com a chuva racha, abre e mói? E também é uma pedra".


Uma espécie de menstruação 


Francisco Tavares, dono de gado miúdo, da 19.ª de Comandos de Moçambique, "aquilo sim, explorava-se água nas matas para beber e aparecia petróleo", tem opinião: "Não saltam nada, nascem lentamente. Vão-se agarrando por elas próprias". Elas são as jogas, a que os miúdos de Castanheira chamam ovelhas e os geólogos designam por encraves. "Têm fermento dentro, em granito. E é esse fermento que as faz engordar. As pequenas ficam grandes e prontas a parir. Depois é que elas vão deixando rasto...".



A explicação parece-lhe difícil: "A especialidade que as faz engordar e engrossar é a bolha de granito que têm dentro. Deixam fermento de umas para as outras e continuam por aí além sempre a parir. A sair da rocha e a parir". Será? "Nós praticamente não sabemos nada disto. Quem nos explicou foram os ingleses e os americanos e os alemães, engenheiros-doutores que andaram por aí a estudar. Eles disseram que com o poder do engrossamento elas explodem, derivado à natureza do clima, do sistema solar, eu sei lá...". Insiste: "E isso por causa do fermento que têm dentro, um granito especial mesmo, uma espécie de menstruação".


De avião 
A NM foi à Castanheira. É sábado, manhã cedo. A aldeia, 50 moradores e uma dúzia de casas, parece deserta. Está tudo para o campo: um tapete verde cortado por muros irregulares e baixos de pdra solta.  Nas estrada asfaltada que dá acesso ao povoado, só se vê Manuel Tavares, velho agricultor a rondar os 90 anos. Anda ali, por força "da trombose aqui deste lado há quatro anos". Caminha sem parar, para trás e para a frente, parece uma sentinela sem quartel. Uma, seta pintada à mão, aponta à esquerda: pedras parideiras. E elas estão logo ali, junto à estrada. Afagadas pelo tempo, pela chuva, por pés curiosos, pelo rodado de jipes e de motos, em ralis de Verão. "Pedras sem dono. Caminho para passar vacas e gado miúdo", no dizer de Manuel Tavares.



Dali, as parideiras trepam em direcção à crista da serra, num lajedo íngreme de granito maciço. Para um leigo, à primeira vista, aquele é um granito igual a todos os outros. Só depois, de mais perto, se descobrem nódulos arredondados de mica preta, as jogas, à flor da rocha". Dantes, as pedras parideiras também se derramavam para baixo, para o coração da aldeia, como um rio de granito em turbilhão, bordejado de casas. Agora, ao fundo de uma estrada de paralelo, já perto dos terrenos de cultivo, a residência do presidente da Junta: "Antigamente aqui só passavam praticamente cabras. Existiam só as pedras parideiras, um filão delas. E, de resto, não passava mais nada. Uma pessoa que quisesse vir de automóvel aqui à beira de minha casa, não passava. Por isso eu tive que rebentar com elas. Teve de ser assim. Eu não podia vir de avião".


Antes que seja tarde
Aos poucos, Castanheira está a conciliar-se com as suas pedras. Está a aprender a coexistir com elas. A compreender que afinal há lugar para todos na aldeia. Para o povo e para as pedras. E que ambos são lá necessários. "Eu gostava de preservar isto. Para mim é um património". Quem o diz hoje é o presidente da Junta da terra. Anónio Tavares José já escreveu à Câmara de Arouca a pedir a tomada de medidas para salvar o que resta das pedras parideiras. "E depois disso até já falei com o presidente da Câmara que me disse "sim senhor", estava a pensar nisso e em mandar fazer uma vedação".


Essa ideia corresponde ao que pensam as pessoas na Castanheira. Acham necessário, no mínimo, instalar uma cerca nos afloramentos mais importantes "de maneira a que o pessoal de fora não pudesse levantar pedra. Ao menos nas melhores áreas". Fernando Noronha, professor catedrático da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, é de opinião que a autarquia de Arouca e o povo da Castanheira são entidades fundamentais para ajudar a salvar estes "importantes monumentos geológicos: coisa rara que não se pode deixar destruir". E diz-se mesmo completamente disponível para, com o Centro de Geologia da sua Faculdade, proceder a uma correcta inventariação da área a proteger e dar parecer sobre a melhor forma de actuar.


No domínio das acções a empreender, Fernando Noronha acha prioritário esclarecer as populações e a autarquia sobre o valor e a  importância do património em risco. E sugere, na linha do que se faz lá fora em determinados trajectos geológicos, que na Castanheira sejam por exemplo instalados grandes painéis onde, com palavras simples, o fenómeno seja explicado ao grande público. Uma coisa é certa: algo tem de ser feito, e com urgência. Antes que seja tarde.
 


VIAGEM FANTÁSTICA


Para Fernando Noronha, professor catedrático da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, a chave para a compreensão das pedras parideiras aconselha a fazer uma fantástica viagem no tempo: "Temos de imaginar uma coisa com muitos milhões de anos. Se tivermos essa capacidade, podemos ver uma rocha desde a nascença quase até à morte. Simplesmente ela nunca morre, porque reincarna noutra. É um ciclo litológico". E conclui: "Como há rochas ígneas, rochas sedimentares e rochas metamórficas, elas nunca morrem. Uma quando acaba dá lugar a outra".


Nesta ordem de ideias, e segundo a interpretação de Fernando Noronha, o granito da Castanheira, aquando da sua formação ou instalação, terá agregado no seu seio restos de rochas preexistentes. Esses materiais deram origem a formações nodulosas de predominância biotítica (encraves ou jogas). Já depois disso, há 320 milhões de anos, o granito terá sofrido poderosas deformações. As pressões que estiveram na origem deste processo exerceram-se também sobre os encraves e determinaram o seu achatamento.


Entretanto, as massas graníticas que afloraram à superfície do solo vão-se, nos nossos dias, desagregando e libertam os encraves. Afastada está a ideia, muito enraizada entre o povo da Freita, de que seriam os encraves a fazer, no presente, uma espécie de migração do interior do granito até à superfície da rocha. "Essa do nódulo migrar, sair do seio da pedra para saltar cá para fora, isso não. A pedra pare aquilo porque tem lá aquele corpo estranho. A pedra racha e parte - porque tem uma foliação bem marcada - e nessa altura o nódulo sai". E Fernando Noronha conclui: "O partir do granito é que vai libertar os seus prisioneiros que são os encraves, processo facilitado pela acção erosiva".


Na mesma linha interpretativa está o estudo dos geólogos Carlos Teixeira e Torre Assunção, da Universidade de Lisboa, publicado em 1954. As pedras da Castanheira são aí caracterizadas "como rocha granítica com numerosos nódulos biotíticos em forma de discos circulares ou de medalhões (...)". Através da erosão do granito, explicam, esses nódulos de biotite (mica preta) paulatinamente afloram à superfície da rocha, desprendem-se e vão-se acumulando no solo. "Por isso, os camponeses da região chamam à rocha "a pedra que pare pedra", isto é, a rocha que produz uma outra rocha".


REPORTAGEM publicada por Augusto Baptista na revista "Notícias Magazine" em 16 de Maio de 1993


publicado por FTF às 11:39
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